«A vida no Homem Novo». A construção da Igreja de Cristo, sinal de maturidade e fé, projecta o Homem para o mundo. Como cristão, és chamado a ser «sal da terra», «luz do mundo» e «fermento na massa», assumindo um lugar activo na construção dos «novos céus e da nova terra». O Reino de Deus, cuja lei está patente nas Bem-Aventuranças, é a vida com e em Cristo – o Homem Novo: essa será então a meta a alcançar pelo Caminheiro. Ideal: o “Homem Novo”.
Como Caminheiro, deverás estar consciente para assumir integralmente o ideal do “Homem Novo”. Entende que a “novidade” não consiste na adesão permanente às “últimas modas”, mas sim na descoberta, aprofundamento e assumpção dos valores genuínos que estão ligados à própria natureza do Homem e que, por isso mesmo, te poderão fazer ser mais feliz. Não procures no entanto uma felicidade ligada a coisas efémeras (dinheiro, fama, prazer, vicio,...) mas sim a verdadeira Felicidade, aquela que tem como referência a “novidade radical das Bem-Aventuranças”. Poderá parecer estranho que, num tempo como o que hoje se vive, de modernidade e extraordinários avanços em todos os campos, em que o progresso parece não ter limites, seja necessário mergulhar no interior de ti mesmo para encontrares algo verdadeiramente inovador: a vontade de amar, o gosto de fazer, a necessidade de partilhar, o desejo de viver, o prazer de Servir, a satisfação de sentir, a emoção do criar. Mas, de facto, estes valores não se encontram ‘fora de nós’: fazem parte do nosso Ser Divino, que encontramos no interior de cada um de nós, e que nos torna – a todos e a cada um – mais próximos e semelhantes à imagem de Deus. A proposta que te é feita não é meramente “romântica” – é uma proposta concreta, destinada a ser vivida por cada um, todos os dias: na tua escola, no teu trabalho, com os teus amigos, com a tua família, etc. Dentro do teu mundo, estarás assim a ser artesão de um mundo novo. Bem-Aventuranças – O Sermão da Montanha O Sermão da Montanha, referido pelo evangelista Mateus, é extraordinário pelo facto de resumir, em poucas linhas, tudo o que há de mais importante para um cristão – o que ele deve ‘saber ser’ e ‘saber fazer’. Jesus Cristo pregou este sermão no cimo de um monte, localizado na costa norte do mar da Galiléia, perto da cidade de Cafarnaum, no primeiro ano da Sua pregação pública.
Enunciou assim as 9 Bem-Aventuranças:
As bem-aventuranças poderão ser difíceis de entender à primeira leitura, pois valorizam comportamentos e valores de certo modo antagónicos aos que a sociedade nos habituou a valorizar. Ser “bem-aventurado” significa: ser “feliz”. Assim, poderias perfeitamente dizer: “Felizes os pobres de espírito...” ou “Felizes os que choram...” em qualquer uma das bem-aventuranças, que não lhes alterarias o sentido com que foram escritas. As bem-aventuranças ensinam-nos um revolucionário caminho para a felicidade, a que aspira todo o ser humano. Não a felicidade como o mundo a vê e propõe: material e efémera… mas a verdadeira felicidade, através de um verdadeiro ‘renascimento espiritual’ e modo de estar na Vida. Como? Jesus opta por fazer um discurso positivo e afirmativo, nunca usando a palavra ‘não’, nunca referindo proibições e castigos, mas subentendendo sempre uma linguagem de Amor. Mostra-nos o caminho largo, em contraponto ao caminho estreito interpretado e vivido à luz das antigas escrituras. Falando assim, reforça a influência positiva dos cristãos na sociedade e afirma que os Seus ensinamentos, ao invés de abolir, complementam os dez Mandamentos do Antigo Testamento. As bem-aventuranças são, no fundo, um programa de vida cristã e abrem-nos o caminho para uma vida em Cristo, com Cristo e para Cristo. Mostram-nos ser possível ser feliz, sendo simples, castos, puros nos pensamentos; sendo atentos à nossa espiritualidade e vivência interior; sendo sóbrios e gratos à Terra que será nossa herança; sendo justos e observadores, delicados e leais aos outros e aos ideais que tomamos como nossos. Todos estes elementos fazem parte da nossa Lei do Escuta, reparaste? A actualidade dos Seus critérios mostra bem que é possível vivermos a Sua Palavra nos dias de hoje, sem deixarmos de ser jovens e modernos, sem deixarmos de aproveitar a vida e o mundo, no melhor que têm para nos oferecer. As Dimensões do Caminheirismo O teu itinerário como Caminheiro vive-se em torno de quatro dimensões que adquirem um valor simbólico: Caminho, Comunidade, Serviço e Partida. Estas dimensões dão nome às etapas do teu progresso, mas são muito mais do que palavras: são 4 dimensões que deverás ter sempre presentes na tua vida de Caminheiro, independentemente da fase do teu percurso pessoal. Assim, em cada etapa deverás dar enfoque à dimensão do mesmo nome, sem nunca negligenciar nenhuma das outras. É um itinerário de progressão pessoal, de tomada de consciência das possibilidades de crescimento, de pensamento, que se te oferece na vida em Clã e na vida de cada dia. No final deste itinerário, estás a franquear as portas da vida adulta, livre e responsável, prestes a tomar a Vida nas tuas mãos. Um percurso pessoal: o Caminho. Na IV Secção, és desafiado a escolher um itinerário de descoberta e de acção que te leva a tornares-te construtor de um Mundo Novo. O Caminho significa então, a abertura, a largueza de vistas, o apelo do horizonte, a capacidade de aceitar a mudança, de viver na própria mudança; é também um espaço de vida despojada, de rejeição do supérfluo, de atenção ao essencial: graças a isto, este Caminho dos Caminheiros é, tal como o dos Peregrinos, um testemunho de vida cristã. Finalmente, o Caminho é um lugar de perseverança, de experiência de uma lenta e paciente construção de ti mesmo, de aprendizagem da capacidade de te comprometeres para além do imediato. No Caminho de Emaús, Cristo ressuscitado revelou-se aos seus discípulos, caminhando com eles lado a lado… Um percurso em grupo: a Comunidade. Durante o Caminho, és interpelado a avançar lado a lado com o outro. O Caminho ajuda-te a desenvolver a tua capacidade de acolher o outro, de o ajudar a avançar e de te deixares ajudar, de partilhar com ele as alegrias e as tristezas da jornada. A Tribo é o espaço privilegiado para esta interpelação acontecer, é na tribo que se vive o início da comunhão que se potencia na vivência em Clã. É com o apelo das bem-aventuranças que dás sentido a este caminho conjunto, que se torna assim experiência de comunidade, de partilha, de amor e de construção da paz. O Clã é a tua comunidade, mas não é a única onde estás inserido; o teu crescimento deve ser feito enquanto membro do clã mas também enquanto cidadão. Por isso, esta comunidade não pode nunca viver virada sobre si. No Caminho de Emaús, Cristo foi reconhecido pela fracção do pão… Um percurso com sentido: o Serviço. Viver o Serviço é um compromisso de cada instante, que irás expressar ao longo do teu itinerário – o Serviço como algo de natural. Prestar Serviço não é forçosamente um acto físico, ou um dom material: pode ser um suporte moral, um intercâmbio, ou mais ainda. Esta vivência do Serviço deve ser experimentada individualmente, em Tribo e em Clã – deverão ser acções de longo termo, que denotem uma vontade de compromisso e não apenas “mini-serviços” rápidos, sem continuidade. O Serviço é gratuito, mas quem presta Serviço enriquece. É uma dinâmica de descoberta, vivida numa relação de amor fraterno, de “receber, dando-se em troca”. Servir é tornar-se apto para a missão. No Caminho de Emaús, Cristo serviu os seus discípulos ao lhes explicar as Escrituras… Um percurso para a vida: a Partida. Durante a tua vida no Clã vais, quase sem dar conta, realizar um avanço progressivo para o momento da cerimónia da Partida. Esta expressa simbolicamente que ‘o acto de caminhar é mais importante do que o facto de chegar’. É por isso que, no final do teu tempo de Caminheiro, quando saíres do Clã, não “chegas” ao fim do teu caminho, mas “partes”. Porque o fim de uma etapa significa sempre o início de outra. A Partida é não apenas o momento em que tu te sentes pronto para assumir os desafios da vida, mas também todo o percurso que fazes, preparando-te até esse mesmo momento. O Clã valida e reconhece em ti, que partes, um bom testemunho de vida de Homem Novo. Por isso, a “Partida” também é um Envio. Como só pode haver Partida se houver quem envie, o Clã assume essa competência, tendo em conta que, neste envio, estará presente o próprio Espírito Santo, que te animará e dará as forças que necessitas para a tua vida, para além deste passo. No caminho de Emaús, Cristo, “partiu”... e eles reconheceram-n’O vivo. Simbologia
Estas quatro dimensões que o Caminheiro vive na sua passagem pelo Clã, com vista a preparar-se para a sua vida adulta, são coloridas por um certo número de elementos com uma elevada carga simbólica: ![]() A Vara bifurcada é, antes de tudo, apoio e companhia no caminho do Caminheiro. Ao ser bifurcada, torna-se expressão das encruzilhadas do caminho, quando tens de fazer escolhas ou renovar as tuas opções e decisões, na rota que entendes seguir; é assim o sinal de que te comprometes, a cada momento, a optar pelo projecto das Bem-Aventuranças. ![]() A Mochila convida a pores-te a caminho, a arriscar, a decidir se queres ou não empreender esta viagem que te pode levar longe. É neste caminhar com mochila às costas, que descobres o que é útil e o que é supérfluo, o que te faz penar e o que te impele para a frente, a diferença entre o essencial e o acessório. Como na mochila só se deve levar o essencial para a jornada, do seu conteúdo fazem simbolicamente parte o Pão, o Evangelho e a Tenda. A mochila torna-se assim o teu suporte neste Caminho – simbolizando o teu desprendimento e a tua determinação de ir sempre mais além, de forma autónoma. ![]() O Pão é o alimento do corpo, dado em partilha e em comunhão – fruto do trabalho árduo do homem. ![]() O Evangelho é o pão do espírito, anúncio da Boa Nova de Cristo – a nova Aliança. ![]() A Tenda, transportada na mochila, é sinal da tua mobilidade e da prontidão para te pores em marcha e te ‘fazeres ao largo’. Ao ser montada, demonstra a necessidade de paragem temporária, de descanso. A tenda é também sinal de acolhimento aos outros – a presença de Deus no meio do seu povo. ![]() O Fogo, sinal da descida do Espírito Santo, é dinamizador do amor e força que nos ajuda a concretizar o evangelho nas palavras e gestos.
É o fogo que te ilumina e aquece durante a tua caminhada, que te conforta no corpo e na alma. O Patrono: São Paulo S. Paulo é ícone da universalidade da Igreja: transmite-nos que a salvação, que Cristo anuncia, tem como destinatários os homens e mulheres de todos os tempos, lugares e culturas. Com S. Paulo, aprendes a dialogar com todas as pessoas, no respeito pela diferença e pelo ritmo de cada um, mas na afirmação de um só caminho para a salvação: Cristo Jesus. Sem medo de o afirmar, assumes o teu lugar activo na sociedade, procurando dar o contributo para que o Homem se realize plenamente, de acordo com o projecto de Deus.
A vida em Cristo – o Homem Novo, é a meta para a qual caminhas, até que possas dizer um dia, como S. Paulo,
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